
Os porteiros são os protagonistas da vida dos edifícios. Todavia, sua história e personalidade (e muitas vezes, mesmo o nome) são ignorados por moradores que tratam a guarita como mero espaço de passagem e de serviço. Na vida cotidiana, o diálogo e envolvimento foram substituídos pela pressa e pelo pragmatismo. A velocidade de expansão das cidades, promovendo também demolições a todo custo, corrobora com esse descaso com as memórias dos lugares. Rafael Rg reúne o registro oficial de demolição de três prédios com os uniformes de seus respectivos porteiros, revelando a contradição entre a subjetividade de vidas que atravessaram a história dos condomínios e a dificuldade de reescrevê-las a partir do pouco que delas restou. Tudo o que ficou não dá conta da complexidade dos acontecimentos que os antecederam. O exercício da fabulação e da ficção são a única possibilidade de reviver histórias negligenciadas, que não foram contempladas pelas narrativas hegemônicas. Enquanto isso, muito perto do trabalho, dezenas de funcionários estão ali todos os dias, prontos para serem ouvidos. O artista não indica o que devemos fazer, mas, melancolicamente, nos conta sobre as muitas vidas que passaram por prédios como esse, que, como aqueles, não durarão para sempre. Todavia, sempre restará algum fragmento, que poderá ser um dia exposto e causar tal questionamento.