
As pesquisas censitárias impõem um caráter impessoal e supostamente objetivo à sociedade. Reduzem as particularidades da vida a aspectos gerais mensuráveis, diluindo as pessoas a fatores impessoais, na expectativa de criar um quadro geral. São o instrumento das políticas públicas, que dependem delas para orientar planos e decisões, e também da cultura de consumo, formulando os comportamentos para associá-los à produção. Para questionar esse caráter, o trabalho de Maurício Ianês se volta para outros aspectos do censo, realizando um no edifício Louvre durante a exposição. O artista não se concentra na formatação e no uso dos dados gerados, mas sim em sua obtenção, especificamente no encontro social que acontece quando alguém é pesquisado. Para trabalhar nesse lugar de encontro, o artista se torna o próprio pesquisador. O título é um neologismo sugestivo, Dicenso, que remete a duas ideias. Ao censo, o recenseamento demográfico estatal, processo que parte das entrevistas individuais pelos entrevistadores e que compõem grande fonte dos dados quantitativos que contornam nossa identidade coletiva. Mas remete também à ideia de dissenso, caráter marcante da convivência. Não é o dissenso da guerra, é aquele que surge pelo espaço aberto entre o artista/pesquisador e o público/pesquisado, e que permite o encontro e o compartilhamento das diferenças.