
os 9 dias em cena
Tetine é um duo de artistas multimídia que trabalha com música, videoarte, performance e texto. Para o verso, eles apresentaram duas novas versões da série intitulada Black Semiotics, em que criam mapas de significados ao conectar palavras estampadas sobre banners e pipas. Todas as manhãs do mundo é um retrato do centro de São Paulo nos anos 1980, antes da gentrificação. Já em Sobre o vento/ Todas as mulheres do mundo há os nomes completos de mulheres assassinadas pelas ditadura militar do Brasil com suas datas de nascimento e morte. Os banners foram instalados na parede dos fundos do terreno, localizada na rua privada entre os edifícios Investimento, Copan e Normandia. Durante a exposição a obra Todas as mulheres do mundo sofreu um ato de misoginia e de censura por parte do Copan. Estivemos em contato com o síndico do edifício, o senhor Affonso de Oliveira, durante todo o processo de produção da exposição, e obtivemos autorizações para instalar e realizar diversas obras dentro do prédio que está sob sua responsabilidade, mas, quando pedimos autorização para usar a parede para os banners ele nos encaminhou para o edifício Investimento que nos concedeu a permissão, ciente da obra e de seu conteúdo. Alguns dias depois de instalados, os dois banners foram retirados pelo Copan sem nenhum diálogo com os curadores. O síndico ao ser contestado pela produtora e por uma das curadoras disse que sim, era uma censura por conteúdo, que ele não queria nada “relacionado à 64” em seu prédio, que “é a minha casa e eu faço o que eu quiser”, aspas dele, e que não vai ter nada político enquanto ele administrar o símbolo de São Paulo. Após esse gesto violento, as Black Semiotics em forma de pipa (com os mesmos conteúdos) transformaram-se em epílogo, em despacho do 3º ato. Junto à Casa 1, que recebeu a residência do louvre em 2018, realizamos a ação de soltar as pipas na praça Roosevelt. Um ato para abrir os pulmões. Ironicamente, o síndico do Copan, alguns meses depois do fim do 3º ato, autorizou a realização de um grafite ilustrando uma sereia no mesmo muro onde foram censurados os trabalhos do Tetine. Segundo Affonso contou para uma reportagem da Veja SP, o pedido de Derlon para fazer um mural no condomínio foi o primeiro e único recebido por ele em sua gestão de 26 anos à frente do prédio, e se mostrou muito satisfeito com a obra.
Agradecimentos: Casa 1
O ensaio “Daughters of the Air” (em inglês) escrito por Jéssica Varrichio e publicado no Parse Journal n.13 – On the Question of Exhibition discorre sobre a censura da obra Black Semiotics e suas implicações.