
22 de abril de 2019
Instalado na parede do elevador de veículos do edifício Louvre, O mundo entre aspas se apropria da sinalização em estêncil comum à comunicação visual dos espaços públicos e privados, especialmente das garagens. Visto sempre em movimento, o trabalho reforça o aspecto cinematográfico da parede por onde passa o elevador –não se sabe se o que se move é o espectador ou a própria parede, criando uma sutil relação ilusória com o que se vê. As palavras entre aspas produzem indagações entre os deslocamentos de seu sentido original e o que elas significariam hoje, em um tempo esvaziado de certezas pelo fenômeno da pós-verdade. Elas variam também de campo, criando cruzamentos entre arte, política, adjetivos e coordenadas do espaço. As aspas podem indicar uma citação, um título, podem trazer um caráter pejorativo ou evidenciar um desencontro entre o conceito (palavra escrita) e a sua prática. A obra fechou a exposição em um gesto performativo ao convidar o público para assisti-la impregnada na parede nessa área de serviço do prédio, como se sempre estivesse lá, como pinturas rupestres que nos ajudam a construir o imaginário e os valores da sociedade. Se a realidade não para de surpreender, quais novos sentidos farão essas palavras entre aspas?
Agradecimentos: Marco Antônio Fernandes, Jjoão Paes